20 dezembro 2011

Virada... Um dia para se esquecer | Hermes Machado

Virada... Um dia para se esquecer l No Mundo e Nos Livros

Meia noite. Ouço estampidos. Vejo fugas de seres desesperados em estado de choque sob fachos de luzes que povoam o céu noturno. Agoniados, buscam abrigo debaixo de carros ou para os fundos das casas. Seus corações palpitam prestes a saírem pelas bocas. Olho para cima e, mais uma vez, vejo desalento. Outros, irracionais; desta vez, os alados em vôos desvairados fogem para a serra num ato não menos trágico em busca de quem sabe, livrar-se do inferno criado racionalmente pelo homem para deleite dos próprios homens com o intento de brindarem a virada. A virada? A virada do que?
De repente, em meio à multidão que aflui de todos os cantos, almejando o melhor lugar ao redor das toneladas de pólvoras fincadas sob a areia observo e ouço gritos, soluços de recém-nascidos, crianças de colo e uivos insanos de pequeninos cães caprichosamente acompanhados de seus pais e pseudomadames respectivamente.

Meia noite. Ouço estampidos. Vejo fugas de seres desesperados em estado de choque sob fachos de luzes que povoam o céu noturno. Agoniados, buscam abrigo debaixo de carros ou para os fundos das casas. Seus corações palpitam prestes a saírem pelas bocas. Olho para cima e, mais uma vez, vejo desalento. Outros, irracionais; desta vez, os alados em vôos desvairados fogem para a serra num ato não menos trágico em busca de quem sabe, livrar-se do inferno criado racionalmente pelo homem para deleite dos próprios homens com o intento de brindarem a virada.
Qual homem, em sã consciência levaria sua prole ou seu animal de estimação para um evento cujo espetáculo principal é a queima de toneladas de bombas em meio ao ensurdecedor barulho?
O evento se dá. Uma hora após a passagem de sei lá o que, centenas, talvez milhares de garrafas espalhadas sobre o solo das calçadas, gramados, orla da praia; muitas, espatifadas espalhando cacos por todo o lado, apenas para satisfazer os mentecaptos do som que estas produzem quando estouram pelo chão.


Hermes Machado é escritor paulistano que vive na Baixada Santista. Antes de iniciar a carreira literária atuou como guia para congressos nos Estados Unidos, foi executivo de empresas e gestor de negócio proprio. É autor do romance Vitória na XXV, possui contos e crônicas em sites e jornais impressos no Brasil e exterior.

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